Mudando a sintonia do seu rádio
Decreto de migração da Rádio Universitária 870 AM para FM deve ser assinado ainda em 2017
Texto: Angélica Queiroz
Ilustração: Gabrielle Carneiro
O rádio é um dos mais antigos, populares e abrangentes meios de comunicação social do mundo. No Brasil, o serviço de radiofusão passa atualmente por um processo de migração das rádios de AM (Amplitude Modulada) para FM (Frequência Modulada). A discussão ganhou força após o decreto de migração assinado pela presidente Dilma Rousseff e a portaria do então Ministério das Comunicações (MC), de 2014, que regulamentou a migração. Segundo dados do Governo Federal, existem em torno 1,7 mil rádios em AM no Brasil, das quais mais de 70% optaram por fazer seus processos de migração, entre elas a Rádio Universitária da UFG. Mas quais são as diferenças entre rádio AM e FM afinal? Essa mudança é bem-vinda?
Para responder a essas perguntas, é preciso primeiro entender como funciona a transmissão de rádio: um sinal sonoro é enviado por uma torre em forma de ondas eletromagnéticas e um aparelho sintonizado na mesma frequência que estas ondas capta o sinal enviado. A amplitude e a frequência dessas ondas é que definem o alcance e a clareza desses sinais. As faixas AM e FM são as responsáveis por modular esses sinais. Basicamente as rádios AM têm maior alcance, mas sofrem mais interferências eletromagnéticas, enquanto as rádios FM possuem melhor qualidade de som, mas têm menor alcance.
Alcance ou qualidade?
Nas cidades de médio e grande porte, as rádios AM têm perdido audiência significativa ao longo do tempo. E essa audiência não está se renovando. Os rádios estão sendo fabricados cada vez mais apenas para FM e os novos dispositivos, como smartphones e tablets, só têm FM instalados, nunca AM, o que reduz ainda mais o alcance do público. O diretor técnico da Rádio Universitária da UFG, Arutanã Ybiopuá Ferreira, explica que a qualidade da AM hoje está muito prejudicada nas cidades porque passou a sofrer interferência dos aparelhos modernos como celular, computador e lâmpada fluorescente, e isso compromete a recepção. Por esse motivo, ele acredita ser necessária a mudança para a FM, que não está suscetível a esses ruídos.
“Além disso, a banda de frequência da FM é maior, se aproxima mais do ouvido humano e funciona bem em garagens ou no subsolo porque não tem tanta interferência dos obstáculos”, acrescenta Arutanã Ybiopuá. Com tudo isso, a captação de verbas publicitárias para as emissoras AM fica muito reduzida. “A Rádio Universitária, por ser uma emissora educativa, pode apenas fazer captação de mídias oficias de governo ou de apoios culturais, mas mesmo essas fontes estão cada vez mais es- cassas”, afirma a diretora da Rádio Universitária, Márcia Boaratti.
Sobre a perda no alcance, Arutanã Ybiopuá lembra que a população rural tende a decrescer e, por esse motivo, não é interessante focar nesses públicos. “É inegável que acabamos criando o que chamamos de zonas de silêncio. Mas estamos trabalhando para garantir um melhor sinal FM para alcançar a todos os segmentos e também parcerias com outras redes para retransmitirem programação de outras rádios”, observa, lembrando que, embora a AM tenha sido historicamente mais popular entre as classes mais baixas, a FM atualmente já consegue chegar a todas as classes sociais.
Márcia Boaratti concorda que a grande desvantagem da migração é a perda de alcance do sinal. “O sinal da antena da AM chega muito mais longe que a FM, mas essa desvantagem está sendo minimizada a cada dia pela transmissão da programação utilizando streaming em sites, aplicativos ou mesmo em redes sociais”, observa, destacando que a Rádio Universitária utiliza esses recursos com o streaming ao vivo no site da emissora, no aplicativo Minha UFG e no Portal UFG.
A Rádio Universitária vai mudar?
A UFG solicitou alteração da Rádio Universitária de AM para FM em 2014, mas em locais onde não havia mais espaço para rádios novas e o canal 5 e 6 de TV estavam ocupados, como foi o caso de Goiânia, foi preciso concluir a digitalização da TV e o desligamento do canal analógico para criar espaço para as novas FMs, no chamado dial estendido. Então, desde o dia 31 de maio, quando a TV analógica foi desligada na capital, as emissoras de Goiânia podem migrar utilizando a frequência desses canais. A Rádio Universitária está aguardando o andamento do processo junto ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e a expectativa é de que o decreto de migração da Rádio Universitária 870 AM para FM seja assinado ainda em 2017.
Segundo a diretora da Rádio Universitária, Márcia Boaratti, a partir da assinatura, há um prazo para colocar o sinal no ar e este deve continuar funcionando simultaneamente com o sinal AM por cinco anos, quando o último deve ser desligado. “As FMs de Goiânia que vão para o dial estendido têm uma desvantagem sobre as outras. Isto se dá por- que as emissoras que estarão no dial estendido não serão sintonizadas nos rádios convencionais, sendo necessária a troca por receptores digitais”, explica.
Para a diretora da Rádio Universitária, a migração para FM é benéfica, sobretudo, para a comunidade da UFG em Goiânia, que é constituída em grande parte por jovens que hoje só conhecem a FM, lembrando que um dos objetivos da rádio da Universidade é divulgar as ações da UFG também para o seu público interno. Além disso, ela lembra que a programação da Rádio Universitária busca fazer um contraponto ao discurso hegemônico da grande mídia. “Buscamos valorizar a cultura local e também as manifestações e atores que não têm espaço em outras emissoras. A abordagem com maior profundidade e a escolha dos temas e de especialistas, em grande parte da própria UFG, faz a Rádio Universitária ser referência na comunicação em Goiás. Daí a importância de melhorarmos a qualidade de nosso sinal e sermos ouvidos por um maior número de pessoas”, detalha.
E a rádio digital?
Tendo a rádio digital já como uma realidade em alguns países, discutir a migração de AM para FM pode parecer ultrapassada. A Noruega, por exemplo, já faz transmissões somente em formato digital desde janeiro e é o primeiro país do mundo a acabar definitivamente com o rádio analógico. E por que o Brasil não segue esse caminho? As dificuldades de implantação envolvem questões práticas e técnicas. Existem pelo menos quatro formatos de rádio digital no mundo afora: um americano, dois europeus e um japonês. Esses modelos funcionam bem em suas respectivas regiões, mas não atendem às necessidades do Brasil.
Arutanã Ybiopuá explica que, apesar do bom alcance e qualidade, a rádio digital no Brasil ainda enfrenta problemas de interferência, além de custar caro. “No Brasil essa discussão deu uma esfriada porque ela ainda é, de certa forma, experimental”, afirma. Segundo ele, o país teria de mudar todo o seu sistema radiodifusor, o que é inviável devido ao alto custo. No entanto, a migração de AM para FM não impede uma futura digitalização do rádio.
Source: Ascom UFG
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