
Seminário discute inclusão e permanência de estudantes do programa UFG Inclui
Apesar do bom desempenho escolar de alunos de escolas públicas, a inclusão e a permanência ainda passam por questões como necessidade de mais recursos para assistência estudantil e melhor acolhimento dos alunos pelas unidades
Texto: Kharen Stecca
Fotos: Matheus Giovane e Carlos Siqueira
A UFG realizou nos dias 25 e 26 de setembro o Seminário UFG Inclui 2013. O programa de inclusão de alunos de escola pública, negros de escola pública, indígenas e quilombolas completa cinco anos de existência e com diversos estudantes ingressantes pelo programa já formados e no mercado de trabalho. Diante desse cenário, a Pró-reitoria de Graduação (Prograd) convidou a comunidade universitária para discutir os resultados dos primeiros quatro anos do programa.
A abertura do evento teve a presença da pró-reitora de Graduação da UFG, Sandramara Matias Chaves, do pró-reitor de Administração e Finanças, Orlando Amaral, e do pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária, Júlio Prates. Este ano o tema do evento foi Inclusão e Permanência. A intenção é discutir a forma de acesso, já assegurado pelo programa UFG Inclui desde 2009 e pelo sistema de reserva de vagas determinado por lei a partir de 2012, como também o que é preciso para que o aluno selecionado pelas cotas tenha condições de se manter no curso e permaneça na universidade. Segundo a pró-reitora de Graduação, hoje avançamos na discussão. "Há algum tempo a discussão era que as universidades não estavam preparadas para incluir, hoje é clara a preocupação com a articulação entre acesso, inclusão e permanência".
A palestra de abertura foi realizada pelo Coordenador do Núcleo de Apoio Pedagógico, da Pró-reitoria de Graduação da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Adilson Pereira dos Santos. O professor coordena as Ações Afirmativas naquela universidade e fez um panorama do desenvolvimento dessas ações no país, mostrando as experiências de universidades pioneiras dessas ações, como a Universidade Estadual do Rio de Janeiro e a Universidade de Brasília.
No primeiro dia do evento, foi feita a análise dos dados gerais do Processo Seletivo e também do Programa de Assistência Estudantil. A presidente do Centro de Seleção mostrou amostras de dados de cursos de alta e baixa concorrência no vestibular e, em geral, o que se percebe é que há pouca diferenciação entre as notas dos cotistas e dos optantes do sistema universal. Essa diferenciação só é maior nos cursos de alta demanda, como Medicina.
Pesquisa - A professora Gina Glaydes Guimarães de Faria, da Faculdade de Educação da UFG, apresentou o trabalho realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Psicologia, Educação e Cultura. Segundo ela, os estudos indicam um bom desempenho dos estudantes, mas uma preocupação com sua permanência na universidade. São estudantes egressos de camadas populares, de pais que não fizeram faculdade, e que precisam de auxílio financeiro para se manter em seus cursos, além de depender de serviços como restaurante universitário, bolsa alimentação e biblioteca. Acrescenta, ainda, que eles são mais dedicados e procuram mais os professores para atendimento extraclasse. Uma das constatações do estudo, que apareceram também nos pôsteres dos cursos, é que a dificuldade tende a ser superada ao longo dos semestres. Para complementar as discussões da tarde, o estudante Leonilson Rocha dos Santos, da Faculdade de Direito, deu seu depoimento em relação ao programa. Ele acredita que o acolhimento desses estudantes precisa ser repensado, porque dependendo da forma como é feito, pode tornar mais difícil a inserção desse aluno na universidade.
Assistência Estudantil - O pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária, Júlio Prates, explicou que há uma imensa demanda não atendida das ações estudantis. Um dado interessante é que a bolsa permanência só consegue atingir estudantes que têm renda menor que R$ 234 per capita: "Há um universo para ser atendido acima dessa renda até 1,5 salário mínimo per capita. Estudantes com renda de mais de R$ 400 per capita nem se inscrevem mais, porque sabem que não vão conseguir". Por outro lado, a Pró-reitoria consegue atender a praticamente todos os solicitantes da bolsa alimentação que comprovam a necessidade do auxílio. A estudante da Faculdade de Letras da UFG, Carlianne Paiva Gonçalves, também falou de sua pesquisa com estudantes do UFG Inclui e aponta que, na questão do acesso, a informação chega aos estudantes, mas é preciso entender o porquê de alguns optarem por não ingressar por cotas. Na questão da permanência, ela ressalta que os números são importantes, mas precisamos trabalhar com as pessoas, fazer pesquisas qualitativas, criar espaços de identificação e diálogo, fazendo do aluno cotista um sujeito.
Dados e análise - Para a discussão, todos os cursos receberam os dados da Prograd sobre o desempenho dos estudantes nos Processos Seletivos e também nas disciplinas do curso. Cada coordenação realizou estudos desses dados que foram apresentados em pôsteres e apresentações orais realizadas no segundo dia do evento. O que fica claro nos dados é que os estudantes de escola pública têm desempenho praticamente igual ao dos estudantes do sistema universal, mas quando é feita a estratificação dos estudantes negros de escola pública, há uma diferenciação um pouco maior das notas. Por outro lado, a evasão entre cotistas é menor. O que foi colocado por diversos participantes das plenárias é a necessidade de pensar em uma melhor recepção desses estudantes na UFG, um acompanhamento com monitores e tutores para superar falhas de sua formação básica e, além disso, estruturar melhor os cursos para que possam fazer o acompanhamento desses estudantes que devem aumentar nos próximos anos na UFG.
Fuente: Ascom/UFG