FAV Fashion é transformada em exposição

Patrícia da Veiga

Fotos: Thamara Fagury e divulgação

No lugar do vaivém das passarelas, fotografias, desenhos, vídeo e, claro, roupas no manequim. Ao invés de um dia de evento, quatro dias de exposição. E quem circula de um lado a outro não são mais as modelos profissionais, mas sim o público. Apenas os olhares de surpresa e curiosidade se mantém. É assim a 7a. edição da FAV Fashion, que em 2013 está distribuída pelos corredores do novo prédio da Faculdade de Artes Visuais (FAV). Substituindo o formato do desfile pelo da instalação, a exposição foi aberta à comunidade na última sexta-feira, 18/1, às 20h.

Na 7a. FAV Fashion são exibidas criações de 14 estudantes do 8° período do curso de Design de Moda. A turma se gradua em março de 2013 e apresenta o resultado dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) desenvolvidos ao longo de 2012. Sob a coordenação da professora Lavínnia Seabra e a orientação de diversos docentes da FAV, as coleções apresentam um diálogo com artistas plásticos brasileiros. Fundem-se vários signos e materiais na reconstrução da cena contemporânea.

Pauline di Paula, por exemplo, escolheu o trabalho da artista Lygia Pape para se inspirar. Ela diz que se sentiu atraída pelo “impacto visual” da obra Ttéia. Por isso esse também é o nome da sua coleção. “A Lygia me chamou atenção por sua trajetória nas artes, mas, sobretudo, me despertou os sentidos”, argumentou. Em Ttéia, instalação de 2004, Lygia Pape tece fios de ouro que partem do chão rumo ao teto, dando a impressão de que são feixes de luz. Envolvida por essa proposta um tanto tátil, Pauline decidiu desenhar roupas que apresentassem, como consta no catálogo da 7a. FAV Fashion, “sofisticação de materiais e simplicidade nas soluções de construção”. Ela disse misturar, assim, o conteúdo de Ttéia à sua própria identidade. “Também busquei fazer peças que não fossem somente conceituais, mas que pudessem despertar o desejo do público”, explicou.

 

Feixes de ouro na obra de Lygia Pape se transformam...

 

 

... em detalhes para a coleção desenhada pela estudante Pauline di Paula

 

A intervenção dos artistas Nina Pandolfo, Nunca e Os Gêmeos no castelo de Kelburn, na Escócia, feita em 2007 com uma sobreposição de grafites, foi referência para a estudante Mariane Alves Romano. Ela imprimiu em uma coleção streetwear elementos tanto do século 13 como do século 21. “Achei que poderia ser uma mistura interessante, a vida urbana e a era medieval”, comentou. Assim, ela definiu formas retas para roupas masculinas e cavas profundas para a vestimenta feminina. Ainda usou capuzes, correntes e botões juntamente com cores fortes. Por isso, seu trabalho foi denominado A Corte Contemporânea.

 

 

Grafite de artistas paulistanos em castelo do século 13...

 

 ... fez com que Mariane idealizasse um figurino para o cotidiano

 

Em 2010, a estudante Amanda Marques visitou a Bienal de São Paulo e ficou bastante impressionada com o trabalho do artista paulistano Stephan Doitschinoff, também conhecido como Calma. Autodidata, filho de evangélico e neto de espíritas, Calma apresenta um universo pictórico complexo, repleto de símbolos que remetem ao sagrado e ao profano. Além disso, ele traz para a sua obra a linguagem das festas populares, das narrativas e do folclore, resultado da experiência de viver quatro anos nos Lençóis Maranhenses. Para Amanda, esses foram motivos suficientes para dedicar sua coleção CON Alma ao artista. “Sua obra é muito rica e cheia de possibilidades, tive de estudar bastante para compreendê-lo e desenvolver o meu trabalho. E ainda assim, não abordei diretamente os símbolos de Calma. Me limitei a cores e formas”, afirmou.

 

A simbologia de Calma impressionou a estudante Amanda Marques...

 

... que pesquisou a forma, as técnicas e as cores usadas pelo artista para desenvolver o trabalho CON Alma

 

A 7a. FAV Fashion pode ser conferida até o fim desta terça-feira (22/1). Não perca essas e outras releituras da arte contemporânea brasileira!