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Núcleo Takinahakỹ passa a ser Unidade Acadêmica Especial

Em 13/11/25 08:58. Atualizada em 13/11/25 08:58.

Momento homenageou a memória e contribuição da professora Maria do Socorro Pimentel

Texto: Caroline Pires

Fotos: Evelyn Parreira

 

 

Firmando mais um marco para a inclusão, democracia e respeito aos povos originários, foi instalada na segunda-feira, 10/11, a Unidade Acadêmica Especial do Instituto de Formação Superior Indígena Takinahakỹ , ocasião em que tomaram posse seus dirigentes para a gestão 2025-2029. Assumiram os cargos Mônica Veloso e Carlos Bianchi, como chefe e subchefe, respectivamente. O momento foi marcado por agradecimentos, recordações de marcos que permitiram o crescimento e fortalecimento das ações do antigo Núcleo Takinahaky e a memória da professora Maria do Socorro Pimentel da Silva, que dedicou seu trabalho e sua vida à formação de professores indígenas e ao estudo da língua e saberes indígenas. Com a mudança de núcleo para unidade acadêmica especial, será possível desenvolver as atividades com mais autonomia e a participação em editais da UFG voltados para a graduação. Na abertura do evento foram realizadas apresentações pelos povos Xavante, Karajá, Xerente, Guajajara e Kharô, todos com estudantes da nova unidade acadêmica especial.

A reitora da UFG, Angelita Pereira de Lima, iniciou seu discurso falando que todas as cerimônias realizadas nesse espaço são sempre carregadas de muita emoção. Ela lembrou a coincidência da instalação da unidade acadêmica especial no dia da abertura da Cop-30, no estado do Pará, reforça que “os instrumentos que tornam nossa vida melhor passam pela qualidade de vida dos povos indígenas, originários e quilombolas. O Cerrado pede socorro e contamos com essas vozes, afinal, só chegamos aqui por causa da dedicação dessas pessoas”, frisou. Nessa gestão, a reitora lembrou que foi feita a troca do telhado do núcleo, e que essa foi a primeira de uma série de melhorias feitas, mas que, sem dúvidas, a contratação de três docentes indígenas também foi um marco. Segundo ela, nesse sentido, “o Estado Brasieliro tem que ser mais ousado e garantir a presença de professores indígenas nas aldeias. Isso não é simples, mas movimentos jurídicos precisam ser feitos”, lembrou. A reitora frisou ainda que, graças a recursos do PAC, está sendo construído o Espaço Intercultural Indígenas, no valor de 18 milhões de reais, com dormitórios, área de convivência e “o maior auditório desta universidade, para 340 pessoas, e que terá como nome Maria do Socorro Pimentel. Essa é nossa singela homenagem à professora pioneira e que tanto impactou a educação indígena”, lembrou.

Mônica Veloso Borges, chefe empossada da Unidade Acadêmica Especial, considera que esse é um momento para sonhar e rememorar, e que começou em 2007. “Incansável e com enorme amor pelos povos indígenas, a nossa querida Maria Socorro Pimentel reuniu esforços para criar o curso, graças a sua formação no chão de aldeias e também com instituições de fora da UFG”, relembrou. O curso de licenciatura Intercultural Indígena foi iniciado com alunos de 8 povos, “fomos abrindo picadas e conquistando caminhos, acolhendo a diversidade dos povos, em uma metodologia que trabalha tudo de forma ampla, mostrando que na natureza nada de separa”, reforçou. A professora afirma que o curso hoje conta com 270 alunos, de 30 povos, “somos referência nacional na formação de professores e professoras indígenas graças a essa construção coletiva e compartilhada. Contamos hoje com três egressos do nosso curso que são docentes da casa”, destacou. “Com mais autonomia como unidade acadêmica especial, ganhamos também mais responsabilidade. Queremos e sonhamos em nos tornar uma unidade acadêmica plena e criar nosso curso de pós-graduação. Tudo sendo sustentado na diversidade e pluralidade”, concluiu.

 

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Mesa diretiva contou com representantes de estudantes, autoridades e acompanhou apresentação de diferentes povos, logo após o início da cerimônia

 

Afirmando que o entusiasmo e a alegria da instalação dessa unidade acadêmica especial ficou marcada nas apresentações dos povos no início da cerimônia, Carlos Bianchi, subchefe empossado, disse que esse momento simboliza um movimento pelos espaços dos povos indígenas. “Muitos de nós estamos acostumados a andar pela UFG e nos encontrar com os estudantes indígenas, mas isso ainda é visto com estranhamento dentro e fora da Universidade. É muito importante para nós fazer esse estabelecimento dos povos indígenas que desejem estar aqui”, afirmou. O professor reforçou que essas lutas não param por aqui, “contamos com todos para que continuemos avançando com sucesso”, concluiu.

Representando os egressos do curso de Educação Intercultural Indígena, Manaijé Karajá, lembrou que a constituição de 1988 reconheceu as línguas indígenas e que se sente muito feliz de ter sido pioneiro como estudante da turma de 2007. “Com muita coragem deixamos nossas famílias para vir estudar. Nós não recebemos nada pronto, e por isso vamos continuar lutando”, afirmou. Valdirene Karajá, acadêmica do curso de Educação Intercultural Indígena e cacica da aldeia Buridina, afirmou da sua gratidão a todos os que passaram por esse espaço. “Temos aqui uma equipe de gestores guerreiros e a Universidade fez toda a diferença na vida desses povos”, concluiu.

Chiquinha Pareci, da comunidade Rio Formoso de Tangará da Serra - MT e vice-presidenta do Conselho de Educação indígena do MT, afirmou que “a primeira universidade indígena já está aqui na UFG. É preciso dizer que a professora Maria do Socorro está imortalizada em dezenas de povos indígenas e nós vamos seguir a luta que ela nos deixou”, se emocionou. A gerente de educação do campo, indígena e quilombola da secretaria de estado da Educação de Goiás, Valéria Cavalcante, reforçou que esse espaço é importante para desenvolver o diálogo com as secretarias de educação, “sem isso não há equidade e nem respeito. Penso que ao fortalecer essa unidade acadêmica especial será possível fazer essa aproximação”, defendeu.

 

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Histórico

O curso de licenciatura em Educação Intercultural da UFG existe desde 2006, sendo em 2014 inaugurado o prédio que comporta esse curso junto ao Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena (NTFSI). Além do citado curso de graduação (com três habilitações – na área da cultura, da linguagem ou da natureza e matemática), o núcleo ofereceu um curso pós-graduação no nível de especialização e está em preparação de uma proposta de mestrado para atender a demanda dos egressos do curso assim como demais docentes indígenas.
Atualmente, o curso de Educação Intercultural oferecido pelo NTFSI conta com 270 alunos indígenas, em sua maior parte professores. O curso atende aos indígenas do Território Etnoeducacional da Região Araguaia-Tocantins, do Parque Indígena do Xingu e da Terra Indígena Xakriabá, falantes de línguas pertencentes aos troncos Tupi e Macro-Jê e às famílias Carib, Aruak, Bororo e Trumai.

Provenientes dos estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Minas Gerais e Pará, os alunos pertencem a 32 distintas etnias: Akwẽ-Xerente, Apànjêhkra/Canela, Apyãwa/Tapirapé, A’uwẽ Uptabi/Xavante, Bakairi, Bero biòwa mahãdu/Javaé, Boe/Bororo, Crẽh cateh cati ji/Krĩkati, Guajajara, Ikpeng, Iny/Karajá, Ixỹbiòwa/Xambioá, Kajkwakhrattxi/Tapayuna, Kalapalo, Kamayurá, Kawaiwete/Kayabi, Khĩsêtjê, Krahô, Krẽka/Xakriabá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Mẽmõrtũmre/Canela, Mẽtyktire/Kayapó, Panãra, Panhĩ/Apinajé, Pyhcop cati ji/Gavião, Tapuia, Trumai, Wauja, Yawalapiti, Yudja/Juruna.
O curso de Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás surgiu em atendimento à solicitação de lideranças indígenas da região Araguaia-Tocantins e a partir de diálogos, reuniões e seminários ocorridos entre indígenas dos estados de Goiás, Tocantins, Maranhão, Roraima e Rondônia, professores da UFG, profissionais da FUNAI, MEC/SESU/SECADI, CTI e das Secretarias de Educação dos Estados de Goiás, Tocantins e Maranhão

Contribuíram para a proposta do curso de Educação Intercultural as experiências vivenciadas em outros cursos de formação de professores indígenas em nível de magistério, promovidos por organizações governamentais e não governamentais, e também nas licenciaturas indígenas, como as da UNEMAT e da UFRR. Assim, o curso teve sua proposta construída coletivamente, considerando-se as necessidades, os projetos e as propostas educacionais desejadas pelas comunidades indígenas, que sonhavam com outro tipo de escola, ou seja, uma escola que atendesse às suas demandas e não às políticas externas.
Aos concluintes do curso de Educação Intercultural, é conferido o título de Licenciado na habilitação escolhida. O processo seletivo para ingresso no curso é especifico e exclusivamente destinado aos indígenas, com oferta atual de 40 vagas por ano.

 

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Fonte: Secom UFG, com informações do Instituto de Formação Superior Indígena Takinahakỹ

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